Rio
de Janeiro – Os atos de vandalismo ocorridos durante as manifestações populares
na capital fluminense foram discutidos durante audiência pública promovida hoje
(19) pela Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rio de Janeiro. “Se as
organizações e jovens conseguem identificar as pessoas envolvidas em atos de
vandalismo e roubo nas manifestações, porque os policiais não conseguem?” Esta
pergunta foi repetida por várias pessoas na audiência.
O advogado
Renato Teixeira de Sousa, um dos voluntários que atendem os manifestantes
presos, declarou que observou nas ruas a organização de pequenos grupos que se
destacam dos manifestantes, mas que nunca viu a polícia atuando para
identificar os integrantes.
“Como que a
polícia se comporta com relação a identificação das pessoas, tendo em vista que
a gente consegue identificar claramente? Inclusive, no Leblon [na última
quarta-feira], a gente viu que foi um grupo, em torno de 15 pessoas, que foi
andando do Leblon até o lado da delegacia e foi ateando fogo a cada esquina, em
uma coisa quase que orquestrada. O grupo se destacou demais da manifestação, e
todo mundo percebeu que a polícia nem sequer chegou [até eles]”.
O presidente da
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, considerou que o
Estado Democrático de Direito tem sofrido graves violações com a atuação da
polícia contra os manifestantes. Membro do Subcomitê de Prevenção da Tortura
(SPT) das Nações Unidas, Margarida Pressburger, questionou porque a
inteligência das forças de segurança não identifica o que chamou de “horda de
vandalismo”. “Eu pergunto à polícia: de onde vem essa horda? Quem são? Por que
estão lá? Quem os infiltrou ali? Porque eu tenho certeza que eles não são
manifestantes”, disse.
A representante
da Secretaria de Segurança (Seseg), Luciana Patrício, declarou que o comando
das forças de segurança está discutindo a reconstrução das diretrizes de
atuação da polícia diante dos recentes acontecimentos, mas não comentou a questão
da identificação dos responsáveis pelo vandalismo.
“Estamos
convencidos que é possível, sim, e não há opção contrária a oferecer segurança
sem respeito absoluto aos direitos humanos. Em primeiro lugar, partimos de um
ponto comum que essas manifestações são absolutamente legítimas, não é o que
está em discussão. O que está em discussão também não é o uso da força, e sim o
abuso. E também estamos de acordo. Estamos conversando cotidianamente com a
polícia sobre como podemos encontrar uma resposta que não seja nem o excesso
nem a omissão”, disse.
O coronel Robson
Rodrigues da Silva, chefe do Estado-Maior Administrativo da Polícia Militar
(PM) do Rio de Janeiro, disse que o momento tem sido muito difícil de
compreender, e que as manifestações pegam de surpresa vários setores da
sociedade, inclusive a Polícia Militar.
“Reconhecemos
que não é tão fácil, o movimento tem características muito diferentes das quais
nós prevíamos, das quais nós estávamos acostumados a vivenciar em momentos de
manifestação. Há muito tempo que nós não víamos movimento nem no tamanho nem na
violência pontual da forma como tem surgido e também da forma como a polícia
tem agido com maior contundência. Isso nos preocupa a todos, ninguém quer aqui
valorizar esse tipo de procedimento”, declarou.
Ele reconheceu
que o protocolo usado pela PM está “completamente inadequado” e ressaltou que a
ação policial precisa ser trabalhada para que as prisões corretas possam ser
feitas. Em nome da corporação, o coronel pediu desculpas por equívocos cometidos
pelas forças policiais.
Agência Brasil
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