A dona de
casa Maria José Rangel de Souza, de 69 anos, cuidou de Rodrigo de Souza Paes
Leme desde o seu nascimento. Órfão de pai e mãe, foi a avó quem o educou,
cultivou sua religiosidade e o orientou a não seguir carreira militar. Até
passar no concurso para soldado da PM, há cerca de três anos, Rodrigo fazia
biscates, mas sempre manteve o sonho de entrar para a corporação, como seu pai
e avô. Depois de enterrar o neto, de 33 anos, no cemitério Jardim da Saudade,
em Sulacap, depois de ele ter sido baleado durante um patrulhamento na
comunidade onde trabalhava, na Nova Brasília, a dona de casa criticou a
vulnerabilidade a qual os PMs são expostos.
- O
governo alardeou que a UPP tirou os bandidos dos morros. Mas o Rodrigo me
contava que isso é boato. Ele dizia que os bandidos ainda estão todos lá. E não
há a menor garantia de segurança para os policiais que trabalham lá —
revoltou-se a dona de casa.
Segundo
ela, as reclamações sobre a rotina na comunidade eram constantes por parte de
Paes Leme:
- Na
semana passada, falei com meu neto no dia do aniversário do filho dele. Ele
disse que tinha havido um tiroteio lá na quarta-feira e o fuzil que estava com
ele estava emperrando. Cada tiro que ele dava, ele precisava montar a arma de
novo. E são só meninos, garotos que acabaram de passar por seis meses de
instrução. Eles pegam nossos garotos e jogam aos lobos.
A avó
contou ainda que o soldado sonhava, desde criança, em entrar para a carreira
militar:
- A
paixão pela PM começou novo. O pai dele, Jerônimo, era sargento e morreu
cumprindo seu dever. Reagiu a um assalto na esquina de casa e acabou baleado
pelos assaltantes. O Rodrigo herdou dele a paixão e o orgulho de ser PM. Tinha
até tatuagem com o brasão, que ele fez na época que estava no curso de
formação. Na semana passada, ele me falou: “Vó, meu colete é de papel e o fuzil
não funciona direito”. Mas nunca teve medo. Já eu, tinha, principalmente quando
o tiraram da Providência e jogaram nesse matadouro que é o Alemão. Quando
mataram o cinegrafista, todo mundo lamentou. Quando mataram Amarildo, todo
mundo lamentou. E agora, quem vai lamentar?
Jornal O Extra
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