"Guerra" no Alemão envolve R$ 20 milhões em verbas
Rio - A troca de acusações e ameaças de morte relatadas pelo coordenador do grupo AfroReggae José Júnior contra o pastor Marcos Pereira deixou transparente uma guerra surda que agita os bastidores da polícia e da política há mais de quatro anos. Nenhuma novidade para quem vive o dia a dia das ONGs nos Complexos da Penha e do Alemão. Com o resgate de traficantes dando ibope na mídia e o interesse de grandes empresas pela efervescência cultural e econômica nas áreas carentes, o território se transformou numa mina de ganhar dinheiro. Aliás, muito dinheiro.
A batalha entre os dois ex- amigos envolve justamente a distribuição de cifras volumosas — perto dos R$ 20 milhões por ano — em recursos públicos e privados. De olho em obter cada vez uma fatia maior do bolo, na corrida ao tesouro, cada lado lançou mão das suas armas num território povoado por traficantes, policiais e políticos.
Projetos sociais do AfroReggae no Complexo do Alemão: disputas por verbas vultosas são pano de fundo de rixa
A mistura não podia mesmo dar certo. Inovador na conversão de traficantes na cadeia, Marcos Pereira havia reinado nos governos Anthony e Rosinha Garotinho e encarou como uma invasão de área quando José Júnior lançou o bem-sucedido ‘Empregabilidade’ — um projeto para arrumar emprego a ex-detentos.
A vingança do líder da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias pela entrada de José Júnior no projeto de resgate de traficantes do mundo do crime veio com a ocupação do Complexo do Alemão, em 2010. À época, o coordenador do AfroReggae saiu na frente na tentativa de rendição dos criminosos. Atropelou os líderes comunitários e fez a ponte direta com os criminosos.
O erro da empreitada, por causa do receio dos criminosos em serem presos, deu a Marcos Pereira espaço para atuar como incendiário no barril de pólvora. Na boca miúda, passou a assoprar no ouvido da comunidade que José Júnior era homem do governo no Alemão. A reação é rápida. Antes mesmo dos tiros e fogo contra a pousada do AfroReggae, em junho último, os líderes da comunidade passaram a questionar o volume e a distribuição de recursos obtidos por José Júnior.
Como exemplo, os líderes culturais e comunitários citam os R$ 3,5 milhões destinados recentemente pelo governo estadual ao AfroReggae. Se fosse dividido entre as 14 associações de moradores, o recurso alcançaria um número maior de crianças e adolescentes atendidos. Com raiva, passaram a chamar Júnior de ‘Roto Rooter’ — aspira a verba de todos os pequenos projetos da comunidade.
José Júnior nega que a disputa por verbas seja a causa da briga. Para ele, não passa de ciúmes do pastor pelo sucesso do AfroReggae. Os missionários de Marcos também não olham a briga pelo prisma do ouro, e dizem que Júnior assediou o pastor Rogério Menezes a mudar de lado para ter acesso a um território onde ninguém gosta dele.
Fonte odia.ig.com
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