Rio - O
cabo da Polícia Militar, Wagner Jardim Hamude, está detido desde o
último sábado no quartel em que trabalha, em Itaperuna, no Noroeste do estado.
Ele, que é do 29º BPM, foi condenado a 30 dias de detenção em abril deste ano
pela participação na greve de policiais e bombeiros no início de 2012.
Para o
militar, que conversou com O Dia Online , a sentença só foi cumprida
agora porque ele participou das manifestações recentes no município, em que os
moradores exigem a redução do preço da passagem de ônibus e o fim do
monopólio do transporte coletivo na cidade.
Mensagem
do militar na Internet
Foto:
Reprodução Internet
O cabo,
que teve acesso à Internet, publicou em seu perfil no Facebook que sua
detenção tem relação com os protestos. "Com o surgimento das
manifestações, decidiram desarquivar as acusações das passeatas do ano passado,
que não servem de causa e me deter", escreveu o militar, que ajudou na
campanha a favor aumento salarial e melhores condições de trabalho de agentes
da PM e dos Bombeiros. Na época, ele foi mandado para Bangu 1.
Recurso
não foi analisado
Após
receber o documento com a punição, no dia 16 de abril, Hamude apresentou um
recurso mostrando o que seriam as ilegalidades do processo que o acusa, segundo
ele sem provas. O cabo afirma que alteraram discursos pra servir de prova
contra ele próprio.
"Esse
recurso teria quatro dias para ser analisado. Já se passaram 75 dias e não
houve resposta. Estou preso há uma semana sem que meu recurso seja analisado.
Um absurdo jurídico", afirmou Hamude, que recebe ajuda para tentar sair da
detenção.
O militar
está cumprindo uma escala de serviço, mas é impedido de sair na folga. Ele
disse que não foi acusado formalmente sobre a responsabilidade pelos novos
protestos, "mas escolheram depois de 15 meses essa data para me
prender".
Ele disse
que atua nos movimentos na região junto com estudantes. "Antes da prisão
de sábado promovi uma reunião entre o comandante do batalhão e outros
representantes do movimento, talvez por isso (que foi detido)".
Sentença
alega de militar incentivou outros policiais a aderirem a greve do ano passado
Foto:
Reprodução Internet
De acordo
com a decisão do Conselho Disciplinar, o cabo foi punido "pelo fato de dar
apoio ao movimento gravista da PMERJ, (...) mesmo sabendo da necessidade de
cada membro zelar pela preservação da imagem de sua corporação", informa o
documento. O militar contestou a decisão, alegando que "nos autos não se
encontra fonte fiel de que o acusado tenha colaborado com tais atos", e
cita trecho em que afrima que ninguém será considerado culpado até o
julgamento, o que para ele não ocorreu.
'Medo de
sofrer perseguições'
No
Facebook, ele comentou: "Estou detido desde por 'promover reuniões,
debates, passeatas e conceder entrevistas com apoio ao movimento. Por isso não
estive presente nas últimas passeatas'", postou o militar. O cabo disse
que não que se pronunciou antes sobre a detenção porque acredita que poderá ser
punido ainda mais, mesmo não descartando a hipótese de que a divulgação de sua
situação poderia pressionar as autoridades a liberá-lo.
"Por
que não divulguei isso antes? Havia duas possibilidades: O pessoal protestar
pela moralização do Estado. Não nego que essa opção me ajudaria. Mas havia uma
segunda possibilidade: O medo de sofrer essas perseguições, ser ilegalmente
pressionado pudesse desestimular algumas pessoas que querem comparecer às
passeatas", comentou.
Hamude
agradeceu as palavras de ajuda pela rede social. "Àqueles que gritaram meu
nome na passeata meu sincero agredecimento. Fiz o que pude, instruí dentro da
lei e de minha experiência. Força aí, pessoal", disse, recebendo apoio
logo em seguida. "Você realmente é um guerreiro", disse uma pessoa.
No fim da
entrevista, ele se despede e mostra que acredita ter feito a coisa certa.
"Por mais que eu tenha sido perseguido e tenha passado por prisões ilegais
e arbitrariedades, não me arrependo de nada. Aquilo que alcançamos é muito
maior. O bem coletivo não tem preço".
A
reportagem tentou contato por telefone com a assessoria do governo do estado,
que se encontrava ocupado até a publicação desta matéria.
Nesta quinta-feira, durante entrevista à Rádio
Itaperuna AM, o presidente da Câmara Municipal, Alexandre Pereira da Silva
(Alexandre da Auto Escola – PP), agendou uma reunião para a próxima
segunda-feira com o prefeito e o responsável pela Empresa Santa Lúcia para
resolver o impasse.
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